Conjuntura

E se a banca não ajudar a alavancar a economia? OS CAMINHOS IMPREVISÍVEIS DA NOSSA BANCA

Escrito por figurasnegocios

Angola continua a ser um país onde a economia assenta, quase em exclusivo, na dependência petrolífera. Este é um facto debatido e rebatido há vários decénios. É indiscutível que, nos últimos anos, o Governo angolano procurou tentar diversificar a nossa economia, procurou que esta fosse um pouco mais resiliente e expansiva, buscando atrair investimento externo.


Por: Eugénio Costa Almeida*

Por: Eugénio Costa Almeida*

Este é o grande problema da economia nacional: não temos investidores com capacidade financeira para ajudar a economia nacional ser alavancada e diversificada. Reconheçamos de vez! Porque quando me refiro a investidores, estou a aludir àqueles que têm capital próprio ou são apoiados pela banca nacional e estrangeira. Não me refiro aos que aparecem do nada e mostram ter uma forte e nada discreta aproximação a sectores não económicos ou financeiros…

Seria aqui que a banca comercial nacional deveria entrar. Mas…, que banca temos? E o que ela tem feito, em particular nos últimos anos em que a banca nacional – pública ou privada –, principalmente com o maior protagonismo regulador do Banco Nacional de Angola (BNA), parece estar a caminhar para uma estabilização do sector?

Ora, tantos os potenciais grandes investidores nacionais – sejam eles quem forem ou que mostrem capacidade para o serem – como os pequenos e médios investidores, bem como a sociedade civil – e desta não nos podemos esquecer por agregar pequenos aforradores (que na nossa sociedade não os há) e futuros beneficiários de vários tipos de empréstimos bancários – reclamam que os Bancos mostram pouca vontade – alguns – e capacidade – outros – para ajudarem alavancar a nossa economia.

No caso da sociedade civil, em particular, no que diz respeito a empréstimos a futuros beneficiários destes, é evidente que a nossa banca comercial – a de desenvolvimento não estará vocacionada para mutuar fundos de médio e longo prazo – mostra-se incapaz de ter capacidade para ajudar, como seria expectável num país que se quer mais desenvolvido e socialmente mais equilibrado – casa para todos, p.ex.

Nem os “novos” – leia-se, refrigerados – bancos comerciais, por via de algumas “privatizações”, aparentam ter alguma capacidade para juntarem à tipologia bancária nacional habitual – grandes financiamentos – a chamada banca de retalho, que também deveria enquadrar na realidade nacional, contribuindo para maximizar a oferta de financiamento à economia nacional, em geral, e à economia popular ou social, em particular.

Apesar dos importantes indicadores da Forbes e da Deloitte, apresentados em Outubro passado e relativos ao período de  2019 e 2020, em parte devido aos bons desempenhos dos públicos Banco Económico (BE) e Banco de Poupança e Crédito (BPC), ainda que estes apresentam valores negativos, a maioria da banca comercial – na quase totalidade, privada – tem os seus bons resultados na captação de activos diversos e da captação de depósitos de clientes, onde parece haver uma forte concorrência para ver quem mais o capta.

Se bem que a Associação Angolana de Bancos (ABanc) nos informe, no seu portal, que o sistema financeiro nacional assenta em quatro grandes “mercados” (mas parecem ser cinco, como o mercado monetário; mercado de crédito; mercado de capitais; mercado cambial; e o mercado segurador – que não será, propriamente banca); o de crédito seria o segmento que, na banca mais nos interessaria ver desenvolvido mas na de retalho, ou seja, na banca que apoiaria a população em geral.

Só que a ABanc reforça que o mercado de crédito, e cito, “é o segmento que atende às necessidades de crédito de curto e médio prazos”. Sublinho, curto e médio prazos.

A questão que se coloca, é que banca nos oferecerá condições adequadas às necessidades financeiras da sociedade civil que não é grande investidora? E quem é esta sociedade civil?

Dir-se-ia, de uma forma simplificada, que seriam todos os que não se enquadram nos grandes investidores que fazem empréstimos a curto e médio prazos: pequenas e médias empresas, que visem desenvolver e alargar a sua capacidade empresarial (ainda que estas possam obter empréstimos a médio prazo); construtores civis independentes que nos ofereçam habitações condignas a preços mais acessíveis; vendedores de automóveis, de electrodomésticos, de mobiliário, etc.; mas, também, toda uma população que esteja em condições – para isso é que os bancos têm avaliadores para ver das capacidades de endividamento dos candidatos a empréstimos – de comprarem um manancial destes produtos que nos tornam mais cidadãos.

Todavia, há que reconhecer que isto só será possível se o Governo der meios conjunturais aos bancos, a fim destes poderem desenvolver uma banca de retalho, com vista melhorar as condições da sociedade Angolana.

Já é tempo de isto ser um facto real. Mas, também é preciso que comecemos a ter empregos em condições e estáveis para fazer face a toda uma corrente de “incómodos” que os empréstimos provocam, aliados às ainda elevadas taxas praticadas pela banca…

Precisamos de uma banca que ajude sociedade civil a também ajudar alavancar a nossa economia!

* Investigador Integrado do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL) e Investigador-Associado do CINAMIL e Investigador para Pós-Doutorado da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
 ** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado.

Sobre o autor

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