Desde 8 de Julho, e com um momento alto a 28 de Agosto, que, com o falecimento de José Eduardo dos Santos, fomos assistindo as mais diversas dissonâncias entre muitos actores, de certa maneira arrumados em três partes principais que, por sua vez, algumas dividem-se em subgrupos. De um lado os filhos, sobretudo a filha Tchizé, do outro João Lourenço/Estado Angolano e seguidores e, num terceiro e vasto grupo, todos os que gostam de espectáculo – do burlesco ao grotesco – dentro e fora do país e que até pagam para ver (e ouvir), acto após acto, numa novela de cordel.
Incerto fica o lugar ocupado, neste xadrez de poderes e de interesses, pela viúva Ana Paula e os seus filhos. Possivelmente, orbitam em redor do grupo institucional, num esforço de (re)ganhar posições, após cerca de cinco anos de conhecido “apagamento” matrimonial e social. Isto há coisas que nem a teoria dos fluídos nem a física quântica conseguem explicar! Rei morto… Rainha nas luzes!?
Tal como a Rainha (Dama) no jogo de xadrez, que se movimenta em linhas rectas pelas fileiras, colunas e diagonais no tabuleiro e não pode pular as suas próprias peças ou as adversárias e captura tomando a casa ocupada pela adversária, também a viúva parece movimentar-se da mesma maneira. Será que, à semelhança do xadrez e devido ao seu valor, onde normalmente é trocada somente pela Dama adversária e o seu sacrifício, em função de outras peças, são posições que normalmente determinam o desfecho da partida. E quem será a sacrificada?
Todo o “espectáculo” que assistimos tem um recorte de perfeita alegoria: “A morte de JES ou a alegoria do Cazumbi”. Em geral, a alegoria reporta-se a uma história ou a uma situação que joga com sentidos duplos e figurados, sem limites textuais (pode ocorrer num simples poema, como num romance inteiro), pelo que também tem afinidades com a parábola e a fábula.
Veja-se o exemplo seguinte de uma fábula de Esopo: “O leão e a rã”: Certa vez, um leão, ao passar perto de um pântano, ouviu uma rã coaxar muito alto e com muita força. Dirigiu-se então na direcção do som, supondo que ia encontrar um animal grande e possante, correspondente ao barulho que fazia. Por isso, ao avançar, nem reparou na pequena rã e pôs-lhe a pata em cima. “Vê lá onde pões os pés!”, gritou a rã. O leão olhou, admirado, e disse: “Se és assim tão pequena, porque é que fazes tanto barulho?” Se substituirmos a rã por “o Orgulho” e o leão por “o Poder”, transformamos a fábula numa alegoria; se em vez da rã colocássemos “a Filha Despeitada” e em vez do leão “o Presidente Severo”, teríamos uma parábola, que esconde personagens reais por detrás de uma máscara alegórica.
Muito se irá ainda dizer e escrever à volta desta “alegoria de Cazumbi”, qual alma de um antepassado, alma penada, espírito errante… feitiço. Angola e os angolanos não merecem mais uma maldição! Estamos Juntos. (Julho/Agosto de 2022)
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