Nas últimas semanas, as redes sociais foram invadidas por imagens e vídeos que nenhum coração deveria suportar ver. Centenas de Famílias do município da Quiçama, desalojadas no quadro da requalificação da Muxima, foram deixadas à própria sorte em terrenos baldios, cercadas apenas vento e frio das madrugadas.
Entre elas, um antigo combatente de 60 anos, homem que viu o nascer da independência, combateu no Cuando Cubango e acreditou na promessa de um país para todos, chora a humilhação de ser chamado “proveniente ” pelo próprio administrador municipal.
Há símbolos que ferem mais que palavras. Quando o poder público rotula um cidadão com décadas de vida numa comunidade como “proveniente”, não é apenas um erro administrativo, é um apagão da história, um golpe na dignidade e na identidade de quem ajudou a construir o país.
A requalificação da Muxima é apresentada como um projecto de fé, turismo e modernidade. Mas que fé é essa que ergue muros e destrói lares? Que modernidade é essa que começa por desalojar os pobres e termina por ignorá-los? As famílias da Quiçama não se opõem ao progresso; o que exigem é humanidade.
Ora, afinal, qual é o papel do Estado? Construir estradas, pontes e hotéis é importante. Mas nenhum projecto de desenvolvimento pode ser chamado de progresso se deixa crianças a dormir sob a chuva, vento e frio. O Estado deve ser o primeiro a dar o exemplo de respeito à dignidade humana, e não o agente do sofrimento dos mais desfavorecidos.
Quando se desenha um projecto de requalificação, é imperativo que se desenhe, em paralelo, o mapa social das pessoas que ele afetará. É preciso prever condições de habitabilidade, compensações justas, acompanhamento social e psicológico, e, acima de tudo, diálogo com as comunidades. Nenhuma requalificação pode ser feita sobre o silêncio e a dor das famílias.
Estamos no tempo chuvoso. Ver crianças dormirem sobre o barro, mães a cobri-las com panos ensopados e idosos sentados em troncos, olhando o vazio, é uma cena que devia envergonhar qualquer nação que se diz comprometida com os direitos humanos.
A Constituição de Angola é clara, o Estado existe para servir para garantir o direito à habitação, à dignidade, à proteção. Mas o que se vê nas imagens proveniente da Quiçama é o contrário, um Estado que parece ter esquecido o seu dever e um povo que continua a pagar o preço da indiferença. Este comportamento é antigo pensei que tinha sido ultrapassada na mente dos governantes. Vivi essa historia durante a minha vigência na associação SOS Habitat.
A Muxima sempre foi um símbolo de fé e esperança. Milhares de peregrinos ali encontram conforto espiritual, pedindo milagres e soluções para suas angústias. Mas agora, ironicamente, é nas margens da mesma Muxima que muitos clamam por um milagre de justiça e humanidade.
O desenvolvimento não pode ser um campo de despejo. A fé não pode coexistir com a injustiça. E o progresso não pode ser medido apenas em betão e asfalto, mas em respeito, empatia e dignidade.
O Governo deve descer das promessas e pisar o barro onde vivem os que foram deixados para trás. É tempo de requalificar, sim, mas também de reumanizar. Porque um país que permite que o seu povo durma debaixo da chuva em nome do progresso está, na verdade, a construir ruínas em vez de futuro.
Por. Rafael Morais.
PESQUIZANDO NA NET
O CHEFE TIROU A FARDA E MOSTROU O ROSTO
Há críticas que não nascem do desacordo, mas da saudade — saudade do velho poder opaco, do silêncio conveniente, da corrupção escondida sob discursos inflamados. Quando João Lourenço decidiu levantar o tapete, muitos descobriram que estavam em cima dele. E, desde então, gritam que o chão está sujo.
O Presidente João Lourenço não sequestrou o MPLA. Fez algo mais difícil: tentou
libertá-lo de si mesmo. Desafiar um sistema que, durante décadas, viveu do culto interno e do conforto institucional exigiu não só coragem, mas também risco político. E esse risco ele assumiu. Fez inimigos? Muitos.
Mas só quem promove mudanças profundas gera desconforto. João Lourenço não é perfeito — ninguém o é — , mas não se pode negar que trouxe ao centro do debatetemasantesenterradosem relatórios secretos e murmúrios de bastidores: corrupção, transparência, reconciliação, meritocracia. Tirou o manto da conveniência e vestiu o uniforme da reforma.
Quando decide homenagear Jonas Savimbi e Holden Roberto, não o faz por fraqueza ou populismo. Faz porque entende que a história de Angola não é propriedade de um partido, mas herança de um povo. Corrigir o passado exige grandeza, não obediência. O mesmo Presidente que disse “ não” ontem, diz “ sim” hoje porque o tempo ensina e o contexto amadurece. Isso não é incoerência — é evolução política.
Quem o acusa de “ maquilhar” o país talvez não queira ver que Angola, pel primeira vez em décadas, começou a enfrentar os fantasmas que sempre empurrou para o futuro. O combate à corrupção atingiu figuras que antes eram intocáveis: ex-ministros, generais, filhos do poder — todos chamados à barra da justiça.
Isso não é teatro: é o fim da peça antiga.
A história não julgará João Lourenço por ser “ o chefe que tudo centraliza” , mas talvez o reconheça como o Presidente que ousou descentralizar os vícios, ainda que concentrando em si o peso das reformas. E há um detalhe que os seus críticos ignoram: João Lourenço não precisa de unanimidade — precisa de tempo.
Os ditadores do passado — Hitler, Pol Pot, Pinochet, Mobutu — citados como aviso, servem mais como espantalhos do que como paralelos sérios. João Lourenço não governa com punho de ferro, nem com censura brutal, nem com culto à personalidade. Governar num país onde a imprensa pode escrever “o rei está nu” sem que ninguém desapareça no dia seguinte — já diz muito sobre a natureza do seu poder.
O MPLA precisa de reforma? Sim. E João Lourenço, longe de ser o obstáculo, tem sido o impulso. Quem o vê como a doença, talvez se incomode por ele ter iniciado o tratamento. O silêncio em redor, muitas vezes, não é medo — é espera. Espera para ver se a promessa de um novo caminho se cumpre.
E, se a política angolana fosse uma fábula, talvez terminasse assim: “O chefe parou de falar para ouvir. E, no silêncio, começou a costurar a roupa nova do país.”
A história ensina, sim. Mas também pune os que recusam reconhecer um passo à frente — só porque não foi dado por eles.
Por: Adolfo de Matos, em resposta a Horácio dos Reis
CITAÇÕES
“Quer deixar um conservador irritado?
Minta para ele.
Quer deixar um esquerdista irritado?
Diga-lhe a verdade.”
– Theodore Rooservelt.
“Para criar inimigos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa”.
– Martin Luther King
“Os hipócritas são aqueles que aplicam aos outros os padrões que se recusam a aceitar para si mesmos.”
– Noam Chomsky
“É muito simples ser feliz, mas é muito difícil ser simples.”
– Rabindranath Tagore.



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