Já nos habituamos, a ouvir regularmente, (em conversas no espectro da tecnologia), sobre Inteligência Artificial, e nos apregoados futuros usos e transformação e oportunidade que esta tecnologia e seus derivados irá trazer. No fim de Novembro do ano passado, começou-se a gerar um borborinho sobre um tal de ChatGPT, e das suas potencialidades, que deixaram o mercado empresarial e laboral em polvorosa.
O conhecido fundador da Microsoft, e actualmente filantropo milionário, Bill Gates, não só também concorda, como recentemente escreveu no seu blog (www.gatesnotes.com):
“O desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) é tão fundamental quanto a criação do microprocessador, do computador pessoal, da Internet e do telemóvel. Isso mudará a maneira como as pessoas trabalham, aprendem, viajam, obtêm assistência médica e se comunicam umas com as outras. Indústrias inteiras se reorientarão em torno da IA. As empresas vão se distinguir pela forma como a usam.”
É portanto certo que a Inteligência Artificial (bem como Machine Learning – ou seja a capacidade de aprendizagem e reajuste após essa aprendixagem, por parte de máquinas) é um dos mais significativos avanços tecnológicos dos nossos dias, e irá revolucionar muitas indústrias e ter um significativo impacto social.
Vamos tentar perceber este alvoroço que se tem gerado à volta do início da massificação com utilização prática destas tecnologias, no geral com diversas ferramentas que têm sido lançadas e ficado disponíveis, e em particular na que se tornou mais “viral” e comentada – o ChatGPT.
A origem do ChatGPT
A OpenAI, empresa que desenvolveu o ChatGPT, foi fundada em 2015. O objectivo original da OpenAI sempre foi realizar pesquisa e desenvolvimento no campo da Inteligência Artificial com o objectivo de garantir que a tecnologia de inteligência artificial seja desenvolvida de maneira segura, benéfica e ética. Os fundadores da OpenAI, (onde entre outros se inclui o conhecido empresário Elon Musk), acreditavam que a IA tinha o potencial de beneficiar a humanidade de maneira significativa, mas também reconheciam os riscos e desafios potenciais associados à tecnologia. .
Os membros fundadores da OpenAI tiveram como objectivo de base, criar uma organização que pudesse liderar o caminho no que diz respeito à pesquisa e desenvolvimento de IA, ao mesmo tempo em que defendia abordagens responsáveis e éticas para IA.
O que é o ChatGPT?
O ChatGPT é uma ferramenta de IA de livre acesso (tem um modo “Plus” cujo acesso é pago) que se pode encontrar no site https://chat.openai.com/
ChatGPT é uma combinação de dois termos, “Chat” e “GPT”. “Chat” refere-se à conversa interativa entre um humano e um modelo de linguagem de IA. “GPT” significa ” Generative Pre-trained Transformer” que é um tipo de arquitectura de aprendizagem profunda usada para tarefas de processamento de linguagem natural, como modelagem de linguagem, classificação de texto e geração de texto.
- Generativo refere-se à capacidade de gerar “novo” conteúdo;
- Pré-treinado significa que o modelo foi “treinado” num grande conjunto de dados antes de ser ajustado em tarefas específicas;
- Transformador refere-se à arquitectura de rede neural que usa um mecanismo de “auto-atenção” para processar entradas e gerar saídas.
Em resumo, o ChatGPT é um modelo de linguagem de IA que usa a arquitectura GPT para gerar respostas às entradas/perguntas dos utilizadores na forma de texto em linguagem natural.
O desenvolvimento do ChatGPT faz parte de um esforço mais amplo da OpenAI para criar sistemas avançados de inteligência artificial que possam entender e gerar linguagem natural e envolveu um investimento significativo em capacidade de computação, bem como o de uma equipa especializada em IA da OpenAI. O modelo foi “treinado” numa enorme quantidade de dados de texto, incluindo livros, artigos e sites, o que permitiu aprender padrões e relacionamentos na linguagem que pode ser usado para gerar respostas semelhantes às humanas.
Desde a sua criação, o ChatGPT tornou-se uma ferramenta poderosa para processamento de linguagem natural, oferecendo aos utilizadores uma maneira de interagir com a inteligência artificial de uma forma que se parece mais com uma conversa com um ser humano. Ele tem sido usado numa variedade de aplicações, incluindo atendimento ao cliente, tradução de idiomas e assistentes virtuais, diagnóstico médico, entre outros. A linha do tempo do desenvolvimento do ChatGPT está em andamento, com a OpenAI continuamente a optimizar e melhorar os recursos do modelo ao longo do tempo.
A Inteligência Artificial (IA) é uma área de tecnologia em rápida evolução que oferece muitas oportunidades e benefícios. No entanto, também há preocupações e desafios que a IA pode trazer, incluindo:
- Perda de empregos: a automação de tarefas rotineiras e repetitivas pode levar à redução de empregos em alguns setores, o que pode afetar negativamente a economia e a sociedade em geral.
- Perda de Competitividade Empresarial (nas empresas que tardarem a adaptar-se): Num determinado sector de actividade, as empresas que usam mais soluções de Inteligência Artificial, vão ser mais competitivas produzindo com menores custos, potenciado maiores margens (tal como acontece com as empresas que usam meios mecanizados por oposição às que usam processos manuais). As empresas que não se adaptarem a tempo, vão ficar menos competitivas e com maiores riscos.
- Discriminação: a IA pode ser “treinada” com preconceitos e desigualdades existentes na sociedade, o que pode levar a decisões discriminatórias e injustas.
- Privacidade: a IA pode colectar grandes quantidades de dados pessoais sem o consentimento ou conhecimento dos indivíduos, o que pode levar a violações de privacidade e riscos de segurança.
- Falta de transparência: a IA pode ser complexa e difícil de entender, o que pode tornar difícil para os utilizadores compreenderem como as decisões são tomadas e para os reguladores monitorarem e responsabilizarem empresas que utilizam a tecnologia.
- Falhas de segurança: a IA pode ser vulnerável a ataques cibernéticos e explorações maliciosas, o que pode levar a perda de dados sensíveis e violações de segurança.
- Dependência de tecnologia: a IA pode ser tão avançada que as pessoas podem se tornar cada vez mais dependentes da tecnologia para tomar decisões e executar tarefas, o que pode afectar a capacidade humana de pensamento crítico e raciocínio.
Essas são apenas algumas das preocupações que a IA pode trazer. É importante que a tecnologia seja desenvolvida e utilizada de maneira ética e responsável, levando em consideração seus impactos na sociedade e no meio ambiente.
A quantidade de informação usada
Como modelo de linguagem, o ChatGPT foi “treinado” numa ampla variedade de textos e, portanto, tem acesso a uma vasta quantidade de informações. De acordo com o OpenAI, o modelo GPT-3, no qual o ChatGPT é baseado, foi treinado num “corpus” de texto com mais de 45 terabytes de dados, que é equivalente a cerca de 3 milhões de livros.
Se um humano quisesse ler todo esse conteúdo (já para não falar na retenção em memória humana desse conteúdo, com precisão….), seria uma tarefa extremamente demorada e difícil. Supondo que um humano pudesse ler um livro de 300 páginas por dia, levaria cerca de 30 anos para ler 3 milhões de livros. E isso é apenas uma fracção do total de dados usados para “treino” do modelo GPT-3.
No entanto, é importante notar que a capacidade do ChatGPT não se baseia apenas na quantidade de dados de treino (bases de dados de conteúdos indexados, como nas pesquisas do Google, por exemplo), mas também no algoritmo de aprendizagem de máquina (Machine Learning) que o modela. O modelo é capaz de encontrar padrões e relações em dados que um humano pode não conseguir identificar, permitindo que ele faça previsões e respostas precisas com base nas informações que foram alimentadas na ferramenta, daí ser um modelo “Generativo” e muito mais inovador e eficaz.
Nos parágrafos de cima, vemos a desproporção de capacidade Humana vs IA, para algum tipo de tarefas, pela capacidade computacional de ter acesso e relacionar quantidades de informação abissais com enorme precisão.
Na história do desenvolvimento humano, há inúmeros exemplos de tecnologias que tiveram significativa oposição quando surgiram, sobretudo pelo primeiro ponto referido na lista de cima, ou seja, pelo receio de perda de postos de trabalho e aumento do desemprego; mas que invariavelmente e apesar das contestações e protestos, acabaram por ser adotadas e implementadas por serem, na prática formas mais eficientes de obter um determinado resultado.
É essa a lição que devemos tirar da história, ou seja quanto mais depressa nos adaptarmos às mudanças, menos risco de obsolência e redundância laboral corremos. Como indivíduos, e como empresas
Não faz sentido produzir, ou gerir organizações, sem ser da forma mais eficiente possível.
Cabe ao estado, reformar a sua forma de taxação para equilíbrio do novo paradigma. (Por exemplo, será a determinado momento forçosa, a criação de taxas/impostos, por uso de robôs ou Inteligência Artificial por parte das empresas (os beneficiários das eficiências), para redistribuir parte dos ganhos acrescidos em eficiência não humana pelas empresas, para o estado poder, ter programas de educação e preparação do Capital Humano para os novos postos de trabalho necessários – com valências diferentes – e para compensar o decréscimo de coleta em sede de imposto sobre rendimentos de trabalho de trabalhadores, pois serão necessários menos trabalhadores em algumas áreas produtivas).
Há portanto um papel fundamental do estado e dos agentes educativos privados, na capacitação actual, da força de trabalho para os empregos e paradigma futuros.
Com esta transição há inúmeros postos de trabalho que ficarão obsoletos, mas igualmente muitos novos postos de trabalho alinhados com estas novas tecnologias estão a surgir, mas é preciso antecipadamente, formar e preparar esses recursos humanos para a transição ocorrer com menor impacto.
O fundamental abraçar de novas tecnologias, não deverá significar mais desemprego necessariamente, mas sim (com a antecipada preparação dessa mesma transição) maior produtividade, e uma mais pertinente e eficaz, forma de utilização do tempo por parte do capital humano.
É importante que empresas, governos e indivíduos trabalhem juntos para enfrentar os desafios e oportunidades apresentados pela IA e garantir que a tecnologia seja utilizada de forma responsável e sustentável.
E assim, fará todo o sentido.
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