Neste mês, o presidente do MPLA, João Lourenço, utilizando uma tática maquiavélica, agitou as águas ao defender a ideia de apostar em um jovem como seu sucessor à frente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Contudo, essa proposta levanta questões profundas sobre a legitimidade e a viabilidade de tal escolha. A decisão de Lourenço de impor um candidato não apenas desconsidera a pluralidade de vozes e aspirações dentro do partido, como também ignora a sua própria trajectória como líder, marcada por falhas e descontentamento generalizados.
Por: Pedro Milagre Kilamba*
Fotos: Arquivo F&N
A crítica central à proposta de Lourenço reside na sua falta de legitimidade para exigir que os militantes aceitem a sua escolha de sucessor. Durante o seu mandato, o presidente não demonstrou uma liderança eficaz. Desde a sua ascensão ao poder, as decisões de Lourenço têm-se revelado desastrosas; os critérios utilizados para escolher e colocar jovens em determinados cargos não resultaram em melhorias. Pelo contrário, o saldo é verdadeiramente negativo. Alguns desses jovens estão envolvidos em vícios que os colocam em uma condição de avaliação negativa, como nunca antes visto na história do MPLA e do Governo que ele dirige. A gestão da crise econômica, a corrupção persistente e a falta de emprego para a juventude — questões centrais que afligem a sociedade angolana — evidenciam ainda mais as suas escolhas equivocadas e o deficit de liderança.
O problema não reside na promoção de lideranças jovens, mas na seriedade, integridade e compromisso daqueles que ocupam cargos de liderança.
Com o estado deplorável em que João Lourenço colocou o país, Angola necessita de um líder com experiência; um líder maduro, que tenha um histórico de realizações e um entendimento profundo das nuances políticas e sociais do país, capaz de corrigir rapidamente o rumo e garantir um futuro mais estável e promissor para o MPLA e para Angola.
Tomemos como exemplo a figura de Luiz Inácio Lula da Silva, que, mesmo com a sua idade avançada, conseguiu revitalizar o Brasil e recuperar a sua posição de destaque no cenário internacional. A sua ascensão à presidência não resultou apenas de uma mudança geracional, mas sim do retorno à liderança pautada pela experiência, resiliência e um verdadeiro compromisso com o povo. Lula demonstrou que a mera juventude não define a qualidade ou eficácia da liderança; é a capacidade de unir, inspirar e guiar a sociedade em tempos adversa que realmente importa.
Outros exemplos, como o de Xi Jinping, na China, Vladimir Putin, na Rússia, Recep Erdogan, na Turquia, Bola Tinubu, na Nigéria, Marcelo Rebelo de Sousa, em Portugal, e Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, corroboram parte da tese que defendo neste artigo.
O MPLA e Angola necessitam de uma liderança que construa pontes e respeite o legado do partido, em vez de sobrecarregar suas bases com imposições que ignoram a diversidade e a experiência acumulada ao longo dos anos. É fundamental abrir espaço para um debate saudável e democrático, onde diferentes candidatos possam apresentar suas visões e estratégias para o futuro do país.
Portanto, em nome dos Presidentes Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e todas as demais referências do MPLA, é hora de repensar a estratégia de sucessão naquele partido. A imposição de um jovem ou de um candidato, sem a devida consideração pela experiência e competência, representa um retrocesso num momento que exige muito mais do que uma mera mudança de rostos. É necessária uma liderança que não apenas represente a juventude, mas que também possua a sabedoria e perspicácia essenciais para enfrentar os desafios do presente e do futuro. O MPLA e Angola merecem mais do que uma escolha imposta; merecem um caminho claro, comprometido com a verdadeira transformação.
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