Martina Schwikowski | Lusa
Ficar num campo de sobrelotado, onde a falta de alimentos é constante, ou voltar a casa, em zonas onde os combates se mantêm, é um dilema com que se debatem muitos dos deslocados na República Democrática do Congo (RDC).
A DW falou com algumas pessoas que decidiram regressar às suas aldeias. “Vivi no campo durante mais de um ano. Sofremos muito, sobretudo por causa da falta de alimentos. Mesmo depois do nosso regresso, continuamos a sofrer. Se sairmos das nossas casas, roubam-nos tudo o que temos. Os saques são diários”, relata um refugiado congolês em Goma.
“Passei quatro meses como pessoa deslocada. Foi uma vida de grande sofrimento. Mas desde que voltámos [a casa], somos saqueados todas as noites. Vivemos num medo constante. A insegurança aqui é total”, conta uma congolesa.
Estes são apenas dois exemplos de milhares. Segundo dados das Nações Unidas, só no Kivu do Norte vivem mais de dois milhões de pessoas deslocadas por causa dos ataques do grupo rebelde M23 no leste do país.
Há anos que Kinshasa, a ONU e os países ocidentais acusam o Ruanda de apoiar o M23 para controlar os recursos minerais da região. Kigali nega estas acusações.
O conflito, que se arrasta há vários anos, deu origem a uma das piores crises humanitárias do mundo, diz Alex Vines, da Chatham House.
“A realidade é que a RDC, em particular nas áreas à volta de Goma, mas também nas três províncias de Ituri e no Kivu Norte e Sul, tem o maior número de pessoas deslocadas internamente em África. Esta é uma crise importante que requer mais apoio da comunidade internacional”, considera Vines.
Mediação de Angola
Angola assumiu a mediação entre as partes em conflito. O acordo de cessar-fogo entre a República Democrática do Congo e o Ruanda entraram em vigor a 4 de agosto de 2024. Mas os ataques continuam, nota Alex Vines: “O acordo nao está a ser cumprido. É necessário um acordo de paz duradouro e também o fim do apoio aos grupos armados.”
No início deste mês, representantes de ambas as partes reuniram-se em Luanda, a capital angolana, para voltar a debater o acordo. Esta terça-feira (24.09), na Assembleia Geral da ONU, o Presidente de Angola, João Lourenço, fez saber que a proposta angolana tem estado a ser discutida a nível ministerial, esperando que se chegue a um entendimento que permita a marcação de uma cimeira entre os dois países que “sele a assinatura de paz definitiva” na região.
Também esta quinta-feira (26.09), na Assembleia Geral da ONU, o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, apelou à comunidade internacional para que imponha sanções específicas ao Ruanda.
“Nós exigimos a retirada imediata e incondicional das tropas ruandesas do nosso território. Ainda que as recentes iniciativas diplomáticas, tais como as conversações de Luanda, sejam encorajadoras, não devem ofuscar a urgência desta acção essencial”, sublinhou.
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