Frustrada a tentativa de se fazer substituir por um pau mandado, depois que o Tribunal Constitucional lhe travou as veleidades de um terceiro mandato, o antigo presidente do Senegal, Macky Sall, está a passar uns dias em Marrocos, em trânsito para França, onde pretende residir permanentemente.
No dia 3 de Fevereiro, Macky Sall anunciou o adiamento “sine die” da eleição presidencial, prevista para 25 daquele mês.
Dois dias depois, 5 de Fevereiro, a “manada” de deputados que lhe era leal transferiu a eleição para 15 de Dezembro.
Pressionado pela voz das ruas, no dia 16 de Fevereiro, o Conselho Constitucional do Senegal, o equivalente ao Tribunal Constitucional em Angola, chumbou o adiamento das eleições pretendido por Macky Sall.
Com o adiamento da eleição, Macky Sall pretendia alcançar um de dois propósitos: manobrar para obter um terceiro mandado ou excluir da corrida presidencial os candidatos mais credíveis. Não conseguiu nenhum dos objectivos.
Chamados às urnas no dia 25 de Fevereiro, os eleitores senegaleses elegeram Bassirou Diomaye Faye, de 44 anos de idade.
Constrangido, poucos dias após transmitir o testemunho ao seu sucessor, Macky Sall embarcou para Rabat, Marrocos, onde está a preparar a documentação para fixar residência em França.
Como muitos outros dirigentes africanos, Macky Sall nunca tomou o Senegal como país onde gostaria de viver até ao último dos seus dias. Como muitos outros da mesma cofraria, África é apenas um continente para saquear e pilhar. Cuidar da saúde e viver tranquilamente é na Europa, principalmente. É lá que guardam o fruto da pilhagem aos seus países.
Em aproximados 50 anos de independência, a celebrar no próximo dia 11 de Novembro, Angola vai no seu terceiro Presidente da República.
Agostinho Neto, o primeiro, morreu em Moscovo, apenas quatro (10 de Setembro de 1979) anos depois de chegar ao poder. Não teve tempo de construir infra-estruturas hospitalares que lhe acudissem do grave problema de saúde de que padecia.
Mesmo permanecendo respeitáveis 38 anos no poder, José Eduardo dos Santos não foi capaz de construir no país um único hospital de referência. Molestado por doenças, depois que deixou o poder foi procurar tratamento médico no estrangeiro. Morreu ingloriamente no dia 8 de Julho de 2022, em Barcelona, Espanha.
Nos 7 anos de poder, o Presidente João Lourenço não se cansa de gabar a construção de hospitais equipados com os meios materiais mais modernos.
No dia 3 de Abril, na audiência a alguns diaspóricos em turismo pelo país, o Presidente João Lourenço gabou a “aposta muito grande na construção e apetrechamentos de unidades hospitalares, com equipamento bastante moderno, sobretudo nos hospitais de nível terciário”.
Estranhamente, apesar do pesado investimento nos hospitais de nível terciário, a “realeza” do país prefere cuidar da saúde fora de portas.
Nos últimos tempos, a vice-Presidente da República, por exemplo, transformou a Espanha no “quartel-general” da sua saúde.
São públicas informações de acordo com as quais mães angolanas de “sangue azul” preferem ter os partos nos Estados Unidos e em outras paragens.
Ou seja, a “realeza” angolana não aposta um tostão furado na fiabilidade da aposta “na construção e apetrechamentos de unidades hospitalares”.
Os mais altos dignitários do País exibem o Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonar Cardial Dom Alexandre do Nascimento ou o Hospital Materno-Infantil Azancott de Menezes apenas como troféus. Mas, nenhum confia a sua e a saúde dos seus familiares mais próximos a qualquer dessas unidades hospitalares.
Agostinho Neto equivocou-se quando disse que “África parece um corpo inerte onde cada abutre vem debicar o seu pedaço”.
África não parece; é mesmo um corpo inerte, e os abutres que lhe debicam estão longe de ser apenas europeus, asiáticos ou americanos. Os principais abutres são os próprios africanos.
É por isso que, em Angola, a ninguém causa estranheza informação de que dois dos ministros que mais dinheiro manuseiam no Executivo de João Lourenço estão prestes a saltar do comboio para irem usufruir, calmamente, o fruto da pilhagem.
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