Por Vítor Norinha
A eventual criação de tarifas de 30% sobre todas as exportações da União Europeia (UE) para os EUA, tal como consta da carta enviada pelo Presidente Donald Trump à União Europeia, terá um impacto forte, caso de concretize, mas não será catastrófico, segundo a análise da corretora de Valores mobiliários, XTB que tem sede em Lisboa.
Diz a referida fonte que o impacto potencial de uma tarifa de 30% nas exportações para os EUA terá um impacto no Produto Interno Bruto (PIB) entre 0,3% e 1,2%, o que “é significativo, mas não catastrófico”. Lembramos que as conversações entre a UE e os EUA estão a decorrer, tendo as conversas o prazo final de 1 de agosto e não 9 de julho como inicialmente previsto, mas o Presidente Trump lançou a ameaça dos 30% como forma de levar a UE a ter em conta os desejos dos EUA quanto ao comércio bilateral. Disse ainda Trump que irá fazer negociações diretas com alguns dos países que fazem parte deste bloco, sendo que o Reino Unido, não fazendo parte do bloco europeu depois do “brexit”, já fechou as negociações com uma taxa de 10% para ambos os lados. Na UE está a vigorar uma taxa alfandegária geral nas exportações para os EUA de 10%, com exceção de alguns produtos como os automóveis que é de 25%, mas a nova (eventual) taxa a está a levar os europeus a preparem-se com medidas de retaliação.
No entanto, Bruxelas não quer nenhuma guerra comercial e, por isso, o comissário europeu do Comércio, Maros Sefcovic, veio dizer que Bruxelas irá entrar novamente em contacto com a equipa americana para novos estudos de medidas de reequilíbrio. No entanto, há um primeiro pacote de retaliação preparado no valor de 21 mil milhões de euros, e um segundo pacote de mais 72 mil milhões de euros.
Os países europeus com maior exposição às medidas tarifárias de Trump são a Alemanha e a Irlanda. O primeiro país é a maior economia da UE pois os EUA absorvem 10% das exportações alemãs, o que representa 3,7% do PIB alemão, com o setor automóvel a exportar 13% da sua produção para os EUA. A Irlanda tem 53,7% das suas exportações para o mercado norte-americano, com o setor farmacêutico a exportar 55% da produção para os EUA. Estas operações de venda para o mercado americano representam 18% do PIB irlandês.
Impacto
Globalmente, a eventual subida da taxa alfandegária geral de 10% para 30% significa que os produtos europeus ficam mais caros no mercado americano e, logo, tendencialmente haverá menos transações. Referem analistas da Goldman Sachs, citados pela XTB, que as tarifas de 30% a manterem-se por um período prolongado, significarão uma contração do PIB europeu da ordem dos 1,2% até final de 2026. O Instituto Bruegel espera uma queda de 0,3% do PIB da União Europeia, enquanto estudos do Parlamento Europeu dão conta de uma retração do PIB entre 0,2% e 0,8%, o que significa que independentemente de toda a severidade das consequências das tarifas, o impacto no crescimento da economia da zona euro é inferior ao impacto que teve o Covid-19 ou a crise energética dos últimos anos.
Os analistas acreditam que a mais recente ameaça de Trump com a Europa é uma tática de negociação. Já houve impacto na cotação do euro que enfraqueceu marginalmente em face do US dólar. Os analistas da Oxford Economics, citados ainda pela corretora XTB, referem-se aos anúncios do presidente Trump como um “teatro das tarifas”. Na carta de Trump à UE ficou aberta a porta da negociação, pois está escrito que irão considerar ajustar as taxas desde que a Europa elimine barreiras e tarifas. A UE tem ainda outro trunfo e que é a “bazuca comercial”, um instrumento para quem recorre à coerção comercial com a a Europa e os Estados-membros. Este instrumento permite a imposição de direitos aduaneiros e restrições comerciais, introduz restrições ao acesso aos contratos públicos da UE, que valem dois mil milhões de euros/ano, e impõe restrições ao comércio de serviços e introduz controlo das exportações.
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