Em 2025, Angola comemorará meio século de independência, uma data emblemática que representa uma jornada repleta de lutas, conquistas e desafios.
Desde a sua libertação do colonialismo português, Angola passou por uma série de transformações sociais, económicas e políticas que moldaram a sua identidade nacional. Este jubileu poderá também ser um momento para reflectir sobre o futuro do país, especialmente à luz dos novos contextos internacionais, incluindo a diferença de abordagem entre os líderes dos Estados Unidos, Joe Biden e Donald Trump.
A expectativa para os 50 anos de independência é complexa e pode ser abordada sob várias perspectivas: política, económica, social e internacional. Cada uma dessas dimensões traz consigo um conjunto de desafios e oportunidades que Angola precisa de considerar.
Em ternos de desafios políticos e institucionais, Angola tem vindo a angariar alguma estabilidade política desde o término da guerra civil, mas os desafios permanecem. A construção de instituições democráticas sólidas e a promoção de um estado de direito efectivo mantêm-se essenciais para garantir um futuro próspero e pacífico. As eleições gerais de 2022 aliadas a uma contínua evolução do sistema político angolano serão vitais para a estabilidade social, que mostra estar muito longe do ambicionado, principalmente pela juventude pós-guerra, mais letrada, mais politicamente consciencializada e mais socialmente exigente .
A celebração dos 50 anos de independência poderá servir como um catalisador para aprofundar reformas políticas e promover uma maior participação cidadã. Neste sentido, a vontade do governo angolano de fortalecer instituições democráticas, combater a corrupção e fomentar a transparência terá de ser mais clara e efectiva e poderá ser um reflexo positivo de um país que se quer modernizar e integrar, cada vez mais, na cena internacional, para além de África.
Para isso tem de apostar mais nas Relações Internacionais, principalmente sem sabermos qual o impacto das novas políticas norte-americanas onde, certamente, a política externa dos Estados Unidos irá ter um impacto significativo nas dinâmicas globais, dado que a mudança entre as administrações Trump e Biden representará um ponto de inflexão. Enquanto Trump favoreceu uma abordagem mais unilateral e isolacionista, Biden tem se mostrado mais aberto à colaboração internacional e ao multilateralismo. Este contraste poderá ter repercussões em várias nações, incluindo Angola, em particular para os financiamentos previstos e ainda não concretizado ou que estão a meio-caminho.
A primeira administração Trump focou em prioridades que muitas vezes desconsideravam as relações diplomáticas tradicionais, e isso influenciou países africanos que esperavam um forte apoio dos EUA. Contudo, com Biden, houve uma expectativa, que na maioria dos casos se concretizou, de que os países africanos pudessem ser vistos através de uma lente mais inclusiva, com uma maior ênfase na promoção da democracia e direitos humanos, bem como em parcerias económicas sustentáveis. Angola teve a oportunidade de reforçar laços com Washington, promovendo os seus interesses de desenvolvimento e atraindo investimentos.
Ora a nova administração Trump parece tender a ter uma abordagem menos interventiva em relação às questões internas de outros países, o que poderá beneficiar o actual governo angolano, pois o país pode esperar menos pressão sobre questões de direitos humanos e governança; já nas relações comerciais e nos investimentos, Trump pode priorizar o fortalecimento das relações comerciais, caso Angola consiga estabelecer laços comerciais sólidos e atractivos para investimentos, especialmente em sectores como petróleo e minerais, o que poderá levar a haver um aumento do interesse norte-americano em investir no país.
Por sua vez, no que tange às conexões geopolíticas, a relação de Angola com outros países, como a China e a Rússia, também poderá vir a influenciar a dinâmica com os EUA. Uma administração Trump que enfatize relações bilaterais directas pode reduzir a influência dessas potências, tudo dependendo de como Angola manobrar sua política externa com os dois colossos do BRICS.
Já quanto às expectativas que possamos ter quanto às oportunidades económicas e ao desenvolvimento, temos de considerar que Angola enfrenta o enorme e constante desafio de, de facto, ter de diversificar a sua economia, que historicamente ainda depende fortemente do petróleo. As comemorações dos 50 anos de independência podem servir como um ponto de partida para um debate nacional sobre o futuro económico do país. Incentivar a agricultura, a indústria e o turismo é fundamental para a construção de uma economia mais equilibrada e resistente.
Além disso, a crescente digitalização e inovação tecnológica oferecem uma nova onda de oportunidades. O desenvolvimento de infra-estruturas digitais pode não só impulsionar os negócios locais, mas também integrar o país em cadeias de valor globais. A contribuição de parceiros internacionais, especialmente por via da ajuda ao desenvolvimento e investimento privado, será crucial nesse processo.
Por sua vez, as nossas expectativas sociais e culturais, devem ser e são exponenciais.
Socialmente, Angola tem um vasto legado cultural que pode ser celebrado e potenciado durante as comemorações do cinquentenário, dado que a diversidade étnica e cultural do país é, e deve continuar a ser um pilar fundamental para a construção de uma identidade nacional unificada. A promoção da nossa cultura no exterior pode fortalecer laços com a diáspora e aumentar o turismo, a partir de experiências autênticas que mostrem a rica herança do país.
Quanto aos desafios sociais persistem, com a pobreza, a desigualdade e o acesso limitado à educação e saúde pelo que devem ser questões prementes. Neste contexto, a sociedade civil tem de continuar a desempenhar um papel essencial para fomentar um desenvolvimento inclusivo; projectos sociais, com a participação activa da população, poderão ser um legado positivo a ser celebrado em 2025.
Assim sendo, que perspectivas futuras para um compromisso com a sustentabilidade? À medida que Angola se for aproximar dos 50 anos de independência, o compromisso com a sustentabilidade tem de se tornar um imperativo. A luta contra as alterações climáticas e a promoção de um desenvolvimento sustentável deverão estar bem centradas nas políticas governamentais. A busca por um equilíbrio entre crescimento económico e preservação ambiental é essencial para garantir que as futuras gerações herdem um país forte, respeitado, viável e resiliente.
Além disso, a juventude angolana, que representa uma parte significativa da população, deve ser ainda mais – assim a deixem – engajada nas decisões políticas e sociais. O investimento em educação e formação profissional é vital para que os jovens se tornem agentes de mudança em um mundo em contínua e rápida evolução.
Concluindo, a celebração deste período que começou em 11 de Novembro de 2024 e terminará nos 50 anos de independência de Angola, em 11 de Novembro de 2025, deve ser vista como uma oportunidade para refletir sobre o passado, confrontar os desafios actuais e vislumbrar um futuro promissor. A forma como o país responderá a questões políticas, económicas, sociais e internacionais, num mundo em constante mudança, determinará o seu caminho nas próximas décadas. Enquanto o cenário global continua a evoluir, Angola deve estar preparada para aproveitar as oportunidades que surgem, visando a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos os Angolanos.
*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL) e Investigador-Associado do CINAMIL e Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado.
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