Na calçada quente da cidade, entre o cimento gasto e o barulho dos carros, cresce uma infância que não devia existir. Crianças que nascem sem berço, crescem sem tecto e adormecem sobre pedaços de pano estendido no chão. É a imagem nua da exclusão social, aquela que o poder finge não ver, mas que grita todos os dias diante dos olhos de todos.
A falta de planeamento social e de programas eficazes deixou milhares de pequenos cidadãos à mercê da rua.
Ali, a fome é combatida com restos recolhidos do lixo, o frio com trapos e a esperança com o nada. Essas crianças não têm voz, não têm protecção, não têm futuro assegurado. A responsabilidade é de todos, mas acima de tudo, do Estado que se diz guardião da nação.
O governo, que deveria ser a primeira mão a amparar, prefere virar o rosto. Fecha os olhos ao sofrimento, como se a invisibilidade pudesse resolver a miséria. Mas o abandono não desaparece; ele cresce, multiplica-se e torna-se cicatriz aberta na pele de um povo.
Cada criança perdida na rua é uma derrota colectiva, um testemunho cruel de que a sociedade falhou. Não se trata de caridade, mas de justiça. De políticas sérias, sustentáveis, de programas de protecção social que retirem essas vidas da beira da estrada e lhes devolvam dignidade.
Enquanto isso não acontecer, continuaremos a caminhar por cidades cheias de luz artificial e sombras humanas.
Sombras pequenas, frágeis, que carregam consigo a pergunta que ninguém responde: onde está o futuro que lhes prometeram?



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