Vitor Norinha
Jornalista
A evolução das políticas comercial e orçamental dos EUA e o conflito no Médio Oriente irão influenciar a evolução do dólar e do euro em 2025, refere, em nota, o segurador espanhol Crédito Y Caución (CyC). O último mês do ano de 2024 tem sido marcado pela depreciação do euro em face da divisa norte-americana, um movimento que foi influenciado pelas declarações do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, relativamente à taxação dos produtos oriundos da Europa, da China e ainda dos seus vizinhos, México e Canadá.
A perceção do que irá acontecer é relevante para decisões estratégicas de centenas de milhar de empresas que fazem transações naquelas duas divisas. Os analistas da CyC sustentam que a evolução será “incerta” e explicam as razões.
Começam por afirmar que o primeiro fator que é critico na evolução das taxas de câmbio será a evolução das taxas de juro, sendo que, por enquanto, os bancos centrais dos dois blocos económicos, a Reserva Federal norte-americana (FED) e o Banco Central Europeu (BCE) optaram por cortes de taxas diretoras (que vão influenciar as taxas comerciais) impulsionados por dados favoráveis da inflação e do mercado de trabalho. As expetativas dos analistas para 2025 colocam os cortes da FED acima dos do BCE, o que fortaleceria o euro em relação ao dólar, mas os mesmos analistas avisam que se Donald Trump avançar com a imposição de taxas alfandegárias à zona euro, tal como prometeu na campanha eleitoral, a par de deportações em massa de imigrantes legais, assim como os ilegais inseridos no mercado de trabalho, os EUA entrarão numa espiral inflacionista. Esta pressão dos preços manterá as taxas de juro elevadas nos EUA.
Recorde-se que Trump fez o aviso durante a campanha eleitoral de que imporia tarifas generalizadas de 10% a 20% sobre todas as importações e de 60% para os bens importados da China. Acontece que se tal se vier a concretizar temos a “tempestade perfeita” no sentido de que a combinação de aumento das tarifas alfandegárias, com o prometido corte de impostos para empresas e famílias, retardaria a descida das taxas de juro, ao mesmo tempo que desencadearia uma guerra comercial e reforçaria o dólar contra um enfraquecido euro, concluem os analistas da Crédito y Caución.
Acontece que a Europa tem vindo a apoiar com os seus orçamentos o fornecimento de armas à Ucrânia e isso é um risco geopolítico que deixa a zona euro ainda mais enfraquecida. A guerra Rússia/Ucrânia vai para o terceiro ano, e em termos de esforço em armas, soldados e toda a logística equivale a metade do tempo que durou a II Guerra Mundial. Também não se consegue antecipar o que irá acontecer com os conflitos no Médio Oriente e a possível escalada. Tendo em conta a novo poder na Síria e a evolução estratégica de Israel, a ocupar espaço na Síria em nome da sua defesa, a par da destruição de complexos de produção de armas químicas, da frota e da aviação daquele país com receio que caia nas mãos de apoiantes do ISIS e da Al-Qaeda, o futuro é difícil de antecipar. A Turquia também já se posicionou com o ataque a localidades controladas na Síria pelos curdos. Em contraste, o Hamas pretende uma paz e uma troca de prisioneiros com reféns israelitas. O Irão perde terreno na Síria e denuncia a estratégia de Israel, mas sente que não tem força para contra-atacar. Ora não se pode colocar de lado uma ameaça ao comércio de petróleo, o que enfraqueceria as moedas dos importadores de crude e, mais uma vez, haveria vantagem para o US dólar e uma situação de fragilidade para a divisa europeia.
Ora, os analistas preferem traçar um quadro incerto, pois com um conflito no Médio Oriente a atenuar-se seria bom para um euro forte mas, do outro lado, está Trump com capacidade para intervir nas taxas a partir do 3º trimestre de 2025 e que com tarifas inflacionárias, corte de impostos e manutenção ou escalada do conflito no Médio Oriente, criaria condições para revalorizar o US dólar, diz Theo Smid, economista sénior da Atradius, uma empresa do mesmo grupo da CyC. Em 2022 tivemos o euro a ser negociado abaixo da paridade com o dólar, ou seja, foi preciso mais euros para comprar o dólar, e esse cenário não pode ser descartado.
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